segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Fazendo a lição de casa...

Falta pouco para minha viagem... Adianto que esta não é a viagem dos meus sonhos, mas gostei de preparar cada detalhe: da documentação para o visto à arrumação das malas, passando pelas compras de roupa para neve e presentes para a família que me receberá.
Não sei muito do país que visitarei, não sei muito da língua que irei falar, não sei quase nada da minha nova e temporária família. Não sei dos hábitos e costumes locais. Mas eu aprendo! Achei interessante estudar um pouquinho antes de ir ao Canadá. E, então, segue um pouco da minha "lição de casa" baseada em um manual sobre este país. O autor é Ivory e o ano é 2008.
Se este post fosse uma receita eu diria: pegue uma porção de picos e campos de gelo, acrescente a vastidão das pradarias, as intermináveis florestas de coníferas e o norte gelado e austero. Voilà - temos o Canadá, "um mundo de natureza intocada, uma vastidão quase infinita".
Mas isso não é uma receita e o Canadá não se resume a isso. Cada região do país possui uma rica mistura. A francesidade de Montreal, por exemplo, dizem ser fascinante. É lá que passarei 45 dias. Depois, posso dizer se isso é verdade!
Montreal não é a maior cidade do Canadá - foi destronada por Toronto - mas é a metrópole mais diversa do país "exibindo uma fusão extraordinária entre a tradição européia e a modernidade da América do Norte".
1/5 da população da cidade é de imigrantes. É a segunda capital gastronômica da América do Norte, perdendo apenas para NY.
Montreal é uma cidade que não dorme nunca (uma espécie de São Paulo???)! Há uma gama quase infinita de bares, cafés, cabarés, danceterias, entre outros tipos de entretenimento. Há também uma imensa variedade de museus.
Tem invernos rigorosos, com temperaturas médias de -10ºC, podendo chegar até -40ºC. Os habitantes de lá solucionaram o problema de fazer compras no inverno construindo a Ville Souterraine, ou cidade subterrânea, cuja extensão é de 32 km e onde há cerca de 2000 lojas, teatros, hotéis, escritórios e apartamentos. Assim, no inverno desfruta-se ao máximo da vida urbana e, no verão, liga-se o ar-condicionado (rsrs).
Resta dizer que Montreal é bem servida de transporte público; há cinco linhas de metrô e três de trens, além dos ônibus. Penso que locomoção não será um problema!
Este é, até o momento, o maior investimento que fiz em mim mesma. E penso que não só o maior, mas também o melhor: invisto em cultura e educação - lição aprendida em casa!
Bem... estou quase indo. Não quero pensar no que perderei aqui ao passar esse tempo fora (e sei que perderei muitas coisas importantes...). Vou pensar no que ganharei estando lá e que todo o sacrifício valerá a pena!
Vou, e não pretendo ir com o coração apertado. Vou com a certeza de que esta é a melhor escolha e que tudo o que virá depois disso vai ser sempre melhor. Vou sabendo que minha felicidade independe do lugar e das pessoas que me cercam - ela depende única e exclusivamente de mim!
É claro que vou sentir muita saudade daqueles que aqui ficarem... família, amigos, pacientes... Mas eu volto! E a volta é sempre melhor! Não vou abandonar o blog... nem orkut, msn, etc. Então ninguém poderá dizer que sente minha falta!
Até breve!

sábado, 17 de janeiro de 2009

O gato

Eu o vi pela primeira vez numa noite de julho. Estava na garagem da minha casa e, apesar de ainda não me conhecer, veio me recepcionar. Como se ele fosse o dono da casa e eu a visita. Ninguém sabia ainda, mas era exatamente isso que se passava na sua cabeça. Achei-o pequeno e com ar inocente. Chamei minha mãe para vê-lo e ela disse que já o tinha visto naquela tarde. Acrescentou que não era para eu ficar agradando "aquele bicho" porque, do contrário, ele não iria mais embora. Colocamos o gato pra fora do portão e entramos na casa. Da janela da sala eu podia vê-lo acompanhando as pessoas que passavam. Ele parecia estar perdido ou, então, procurando por um novo dono.
No dia seguinte, ao acordar, me levantei com minha mãe informando que o gato estava dormindo na floreira e, novamente, me advertiu que ele não deveria ser agradado para que ele fosse embora. Concordei. Doía pensar nos gatos que eu já tinha tido e na maneira como eles me deixaram. Achei que seria, para dizer o mínimo, cauteloso de minha parte que não deixasse meu coração se apaixonar novamente por um bichano.
Saí para trabalhar e retornei pouco depois do horário do almoço. O gato ainda estava lá, dormindo. As 16 horas, minha mãe começou a se preocupar, pois o gato, ainda que não tivesse recebido carinho, se recusava a ir embora. Quando percebeu que estava sendo observado, levantou-se e veio ao nosso encontro. Rapidamente, minha mãe o pegou e passou-o pelas grades do portão, oferecendo-lhe a rua. Mas o gato tinha outros planos e, tão rápido quanto fora posto para fora, passou pelas grades novamente e entrou em nosso quintal.
Penalizada porque ele não havia comido nada desde a manhã, minha mãe acabou servindo-lhe um pouco de sardinha. Foi um banquete. E não é necessário muito esforço para imaginar que aquela atitude de minha mãe fez com que o gato decidisse mesmo ficar. E foi essa mesma atitude que me deu sinal verde para acariciar aquela bolinha de pêlos!
Como o gato dormia o dia todo e boa parte da noite também, demorou uns três dias para que meu pai - que odeia gatos - descobrisse que tínhamos um novo membro na família. E, quando descobriu, não adiantou esbravejar... o gatinho já tinha nos conquistado! O que nem imaginávamos é que, não muito tempo depois, ele conquistaria meu pai também!
Decidimos que ele, por ter uma mancha preta acima da boca, como se fosse um bigode - de gaúcho ou de português - se chamaria Felipão, homenagem ao técnico de futebol que, além de gaúcho, estava trabalhando com a seleção de Portugal.
Felipão mostrou-se, desde o início, um gato amável, extremamente bonzinho e carinhoso. Como todo gatinho, era também travesso! No seu primeiro Natal conosco, brincava com as bolas da árvore e, depois disso, ganhou uma coleção de bolinhas de borracha. Tinha o péssimo hábito de afiar as garras no sofá e, não contente com isso, por vezes escalava a cortina da sala. Mas, era também, um gato desprovido de instinto felino: caía do muro e, pior, não se virava durante a queda para que caísse em pé! Era tão bobinho que deixou, certo dia, alguma criança malcriada e sem noção cortar-lhe os bigodes!
Gostava de me acordar. Quando minha mãe descuidava, ele subia as escadas e ia miar na porta do meu quarto! Não importava onde eu estava, ele queria estar junto... Quando eu chegava do trabalho, mesmo que eu não fizesse o menor barulho, ele sabia que eu tinha chegado e corria para me receber. Era um gato com alguns comportamentos caninos.
Felipão não era um gato maldoso... Não arranhava e não mordia, mesmo quando muito provocado. Gostava de carinho, gostava de ser mimado.
Quando fui chamada para trabalhar no interior de São Paulo e passava a semana toda fora, vindo para casa somente às sextas-feiras a noite, Felipão fez greve de fome. Assim... decidiu parar de comer. Ficou debilitado. Precisou ser internado. Mas o danado só saiu da greve depois que eu me demiti. Foram dias difíceis para nós dois. E eu não me arrependo do que fiz.
Esse gatinho, que escolheu a casa em que queria morar e "bateu o pé" para ficar ali, dividiu comigo dois anos e meio da sua vidinha. Encheu a minha vida de alegria e me fez ver o mundo com mais cor. Me ensinou que, por amor, vale tudo e que tudo tem mais graça quando se ama e se é amado. Nós éramos assim... Era um amor silencioso, mas fortemente presente.
Ele me deixou há dois meses. Não sei, ao certo, o que lhe aconteceu. Na verdade, não quero pensar nisso. Quero ficar com as lembranças dos maravilhosos momentos que tivemos. Mas é triste não escutar o miadinho na porta. É triste não ver novos arranhados no sofá ou novos desfiados na cortina da sala. É triste não ver a caminha dele no lugar ou a coleção de bolinhas espalhadas pela casa. Mais triste ainda é encontrar um ou outro pêlo numa roupa e saber que não haverá novos pêlos para eu ter que escovar... Ele me faz muita falta!

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Uma mulher polvo?

O grande barato deste blog, para mim, é que por meio dele eu me permito sentar e refletir um pouquinho sobre minha vida. Não deixa de ser, então, uma espécie de terapia onde nem sempre eu conto tudo porque não sei quem são todos os meus leitores, mas o fato é que eu nunca falto com a verdade. Então, por falar em "refletir", estive essa semana pensando em quanta coisa uma mulher é capaz de fazer. Claro que me tomei como exemplo, mas há muitas mulheres que se desdobram ainda mais.
Eu trabalho em 4 lugares diferentes (trabalho pouco, é verdade, mas são 4 lugares)... Penso nos meus pacientes após os atendimentos. Há pacientes que ocupam minha cabeça todo o final de semana. Fico horas pensando em qual seria a melhor estratégia para determinado paciente conseguir produzir determinado som... E ainda há os relatórios - para a escola, para o médico, para a dentista...
Eu também estudo. Faço doutorado (ainda tenho 3 anos pela frente!!!) e estudo francês.
Aos finais de semana - quando meus pais viajam - sou também dona de casa.
Algumas vezes, fico com meu sobrinho (o que é sempre um imenso prazer). Vou ao banco, ao mercado, ao shopping, à manicure... Mando lavar o carro (ok, ok... quanto ao carro, confesso que sou bem relapsa... só mando lavar e abasteço... não verifico óleo, água e nem calibro os pneus... e não coloco a falta de "tempo" como culpada... é pura preguiça mesmo!).
Arrumo tempo para papear com meus amigos - por msn, telefone ou pessoalmente, num almoço ou jantar. Vou ao cinema, devoro livros, fuço na vida alheia (santo Orkut!), assisto novela, ouço música, escrevo no blog, faço dieta.
E muitas dessas coisas eu faço ao mesmo tempo! Às vezes, penso que sou uma mulher polvo, com um conjunto de braços, cada um capaz de fazer uma coisa diferente ao mesmo tempo. E, quem me conhece, sabe: tudo tem que ser bem feito ou, na pior das hipóteses, ainda que não saia bem feito, tem que ter tido o melhor de mim.
Engraçado que por mais que eu faça, sou uma eterna insatisfeita.
Por mais que eu leia, nunca vou conseguir ler tudo o que eu quero. Assim como também nunca conseguirei assistir todos os filmes ou ouvir todas as músicas.
Por mais que eu escreva, quase nunca direi tudo o que sinto e quase nunca serei lida (tomando como exemplo esse blog, ele tem mais "rascunhos" do que posts publicados... fora as coisas que escrevo em papel e, na hora de postar aqui elas deixam de fazer sentido e eu deixo de postá-las).
Por mais que eu converse com meus amigos, o papo nunca se esgota e eu fico sempre com a sensação de que mais poderia ter sido dito.
Por mais dieta que eu faça, há sempre mais quilos a perder.
Por mais que eu veja meu sobrinho, sempre resta um gosto forte de saudade quando ele vai embora (porqueirinha!!! Nunca achei que eu fosse capaz de amar tanto alguém assim... tampouco da maneira como amo: incondicionalmente).
Por mais que eu estude, nunca saberei tudo o que deveria saber - nem de fonoaudiologia, nem de lingüística, nem de psicanálise ou filosofia.
Por mais que eu trabalhe, sempre vai sobrar tempo pra mais trabalho e sempre vai faltar dinheiro...
Sou a senhorita imperfeição. Relutei anos contra isso, mas agora assumo até com certo orgulho e, de certa maneira, com a consciência bastante tranquila: não sou polvo... sou só uma mulher.
Agora, ao reler o que foi escrito até aqui, fiquei com a sensação de que este post pode passar a imagem de alguém que, sabendo de seus limites, fica estagnado. Então, quero deixar claro que não é isso. Ainda que eu tenha meus limites (e, sem dúvida, eles são muitos... aliás, são muito mais do que estes que eu disse aqui), eu não sou uma pessoa conformista, sossegada e estagnada. Muito pelo contrário. Como eu disse, sou uma eterna insatisfeita, mas, ao contrário de muita gente que conheço que só sabe sentar e reclamar da vida, eu gosto mesmo é de encarar desafios e tentar fazer sempre melhor. E, se não puder ser hoje, tudo bem. Amanhã eu terei mais 24 horas para fazer. O que não dá é "viver" as 24 horas de hoje me lamentando.


segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

E o que é a vida senão um grande picadeiro?

Adoro espetáculo circense. De verdade! Mas, ultimamente, não tenho precisado ir ao circo para ver a apresentação dos palhaços. E, acrescento, a apresentação dos palhaços do circo é muito mais cômica!
Quero falar um pouco sobre homens palhaços. Adianto que não quero passar a imagem da mulher feminista que se vira sozinha e não precisa de homem para nada. Quer dizer, se essa é a imagem que passo, ela não é falsa. Sou, até certo ponto, feminista, sei me virar sozinha pra quase tudo e, definitivamente, não preciso de homem (o que não significa, de modo algum, que eu não queira companhia masculina - querer é uma coisa e precisar é outra beeem diferente!).
Como ia dizendo, estamos rodeadas por homens palhaços.
Outro dia conheci um. Aparentemente ele não fazia parte da trupe. Simpático, cavalheiro, esforçado... Quer dizer, nem tão esforçado. Deve ter faltado em, pelo menos, 50% das aulas de língua portuguesa... Cometia erros ortográficos imperdoáveis. E, pior de tudo: me mandava mensagens repletas desses erros! Não quero parecer preconceituosa (embora acredito estar sendo), mas penso que mereço muito mais que isso! Infelizmente eu o achava muito simpático e não queria, de forma alguma, deixá-lo triste. Como, então, dizer para que ele parasse? Optei por um e-mail que escrevi cuidadosamente (não com medo de "escorregar" no português, como ele corriqueiramente fazia, mas para não ser grosseira - coisa que acabo sendo com facilidade por sempre ir direto ao ponto...). Sabem o que o palhação teve a coragem de dizer (depois de muitas cantadas por msn, sms, e-mail, etc)? Algo do tipo "deixa, eu nem queria mesmo". Ah, faça-me o favor! Não, não... era eu quem queria... ã-hã!
E os palhaços que tentam dar o showzinho na rua mesmo? Determinadas coisas são ridículas de se ouvir quando já conhecemos a pessoa que diz... Quando não conhecemos, então, a coisa torna-se intolerável! Cantadas que ouvimos na rua... Ninguém merece! Ninguém mesmo! Mas, a pior cantada que levei na minha vida não foi de um palhaço... Foi de uma palhaça. Ouvi um "que delícia". Aff! Que nojo! Se ouvir isso de um homem já é nojento, imagina de uma mulher. Nada contra quem goste de mulheres... Mas não é meu caso! E, sobre o comentário, posso dizer que há quem goste desse tipo de elogio, mas eu prefiro ouvir outras coisas... De preferência que não estejam relacionadas ao meu corpo!
Ah, lembrei-me de uma cantada que ouvi de um palhaço há uns bons 8 anos (lembro-me porque era meu primeiro ano na faculdade... e, confesso, porque essa foi engraçada!). Enquanto eu passava ele soltou a pérola: "que narizinho lindo"! Tive de rir, porque existia alí uma dupla mentira: primeiro que meu nariz não é, nem de longe, bonito, quanto mais lindo; segundo porque estou longe de ter um "narizinho". kkkkkkkkkkk. Enfim, pelo menos ele foi criativo!
Muito embora encontremos palhaços e palhaças todos os dias, por onde quer que andemos, não há nada mais triste do que a gente se pegar fazendo o papel de palhaço. Quantas vezes, na minha vida, vesti minha mais colorida roupa, calcei meus melhores sapatos à la Bozo e coloquei meu narizinho vermelho? Na verdade, há sim algo mais triste que isso... É quando eu, conscientemente, fiz isso! E não foram poucas vezes. Já fiz isso em nome de "amizades" e de "amores". Tudo entre aspas, pois nada era real. Claro que tirei daí ótimas lições, e só por isso posso dizer que valeu a pena! Foi assim que soube que não vale a pena passar por cima do que se sente para ver o outro bem. Ninguém vale isso! Não vale a pena doar horas do seu dia por quem não merece mais do que poucos minutos (ou, as vezes, nem isso).
Cansada de tanta coisa, sabem o que fiz? Guardei minha fantasia num baú. Ela pode, literalmente, servir no carnaval... Ou, quando eu esquecer disso tudo, posso pegá-la para recordar e perceber que palhaço só tem graça mesmo no circo e que, definitivamente, eu não tenho talento pra isso!