terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Stras o que?

Essa história começou no final de outubro de 2008. Era uma sexta feira a noite e eu estava no intervalo da aula de francês. Conversando com os amigos, um deles, o Mauro (o grande culpado!!! hahaha) ficou inconformado com a minha falta de atitude diante da grande oportunidade de estudar fora do Brasil com uma bolsa paga pelo Governo Brasileiro. O Mauro plantou a sementinha e, dois dias depois eu estava decidida: ia aprofundar meus conhecimentos na língua francesa e pleitear a bolsa de estudos para a França. De lá para cá, passei 45 dias em Montréal, conheci o tão sonhado príncipe encantado (mas essa é outra história...rs - que os amigos e leitores do blog já sabem), voltei, prestei a prova de proficiência em francês, passei, cortei o cabelo (de acordo com a promessa que havia feito), fui aceita pelo professor da Universidade de Strasbourg, pedi a bolsa de estudos à CAPES, que me foi concedida e, depois de muita dor de cabeça (porque é isso que acontece sempre que lidamos com órgão público no Brasil), viajei à Strasbourg, na França na metade de janeiro deste ano.
E é sobre isso que vou escrever neste post. Em primeiro lugar, por que Strasbourg? Na realidade, eu não escolhi a cidade. Escolhi o professor, le Monsieur Gérard Pommier. O professor é médico psiquiatra e psicanalista (o mais respeitado da Europa). Foi aluno e paciente de Lacan. Ele dá aulas as quartas e quintas na Universidade de Strasbourg e, o resto da semana, fica em seu consultório em Paris. Essa é, então, a justificativa pela escolha da cidade.
Vamos a alguns dados... Strasbourg situa-se no leste da França. É a capital da Alsacia e pertenceu, por cinco vezes, à Alemanha. É atravessada pelo rio Ill.
Strasbourg é uma das capitais da União Européia porque abriga inúmeras instituições, como o prédio do Parlamento Europeu, o Conselho da Europa e a Corte Européia dos Direitos Humanos.
A Catedral de Nossa Senhora, de Strasbourg, é maravilhosa. Sua construção começou no final do século 11 e foi terminada em 1439. É toda feita em arenito, mas parece ser de renda. Até 1874 a Catedral foi o edifício mais alto do mundo e teve o título de igreja mais alta do mundo até 1880. Hoje é a quarta maior igreja católica do mundo. Dizem que no verão é possível subir até a plataforma de observação da catedral, de onde se tem uma vista mais do que privilegiada da cidade.
Dentro da Catedral, há o Relógio Astronômico, que tem 18 metros de altura. Como todo bom relógio suíço, marca fielmente as horas. Todos os dias, as 12h31min, um carrilhão com esculturas móveis aparece. O relógio também marca os anos bissextos e exibe informações astronomicas.
Quando eu cheguei em Strasbourg, a cidade estava branca. Não nevava, mas a quantidade de neve nas ruas deixava claro que havia nevado no dia anterior. Passei o primeiro final de semana num hotelzinho super gracinha aqui de Strasbourg. No jantar da primeira noite, fui ao restaurante do hotel e pedi um suco de laranja. E, ao chegar, surpresa: no rótulo da garrafinha do suco estava escrito "laranja do Brasil". Hahaha. Que sacanagem! Eu enfrento horas de avião pra tomar um suco de laranja do Brasil??? Hahahahaha.
Cheguei ao meu apartamento na segunda feira e o dia estava lindo! Tinha sol (e logo eu percebi que isso é uma coisa rara em Strasbourg) e não fazia tanto frio... Quer dizer, fazia, mas era suportável. Neste dia, visitei o mercado quatro vezes! Ainda bem que sou vizinha dele!!! As compras foram desde alimentos e produtos de limpeza até panelas e porta retratos. Pronto, o apartamento ficou com a minha cara!
O frio faz com que eu perca um pouco a coragem de sair, então quase não saio. Passeio as vezes, mas não todos os dias. Gosto de andar pelo centro da cidade, onde está a Catedral e a Petite France porque a arquitetura do lugar é muito bonita! Andar as margens do Ill, vendo os cisnes e todos os outros pássaros, dá uma paz que ha muito eu não experimentava.
Ainda não fui a nenhum museu... Há tempo pra isso. Mas fui ao cinema outro dia. E que caro!!! Eu paguei 6,40 porque sou estudante... Assisti um filme francês chamado Complice e achei um bom filme. O cinema é uma ótima programação para os domingos, já que é uma das poucas coisas que funcionam na França este dia.
As aulas que frequento acontecem as quartas e quintas feiras e é sobre psicopatologia e outros assuntos psicanalíticos. Estou achando super legal, ainda que não consiga entender tudo. Acho que a dificuldade maior nem é o idioma, mas a própria complexidade conceitual. Enfim... vou ralar bastante pra conseguir acompanhar e isso não será um problema!
Tive, no primeiro domingo no apartamento, um problema com a eletricidade. Estava arrumando a casa quando a energia acabou. Fiquei angustiada porque era domingo e a recepção do prédio fica fechada. Depois de muita aflição, encontrei uma vizinha disposta a me ajudar. Ela é grega, mora no mesmo andar que eu e o apartamento dela consegue ser infinitamente mais bagunçado que o meu! Hahaha. Ela foi extremamente simpática, veio até meu apartamento e, em segundos resolveu o problema: levantou a chave da caixa de força que tinha caído. Simples assim... rs.
Pouco mais de uma semana depois, o mesmo problema. A energia acabou quase meia noite. Fui à caixa de força e encotrei a chave caída mas, ao muda-la de posição, continuei sem energia... Que desespero!!! Para minha salvação, no mesmo dia, mais cedo, havia chegado um contrato de prestação de serviços (que eu não solicitei e pelo qual eu fiquei revoltadíssima) da companhia de energia de Starsbourg. De acordo com o contrato, eu devo pagar 5,90 todo mês e tenho assistência gratuita de um técnico em eletricidade. Perfeito! Liguei para a companhia e, após o técnico tentar me auxiliar por telefone sem sucesso, ele veio à minha casa. O problema foi um curto na geladeira. Conclusão: quase uma da manhã eu já tinha energia, mas fiquei sem geladeira... Amanhã um técnico vem ver o que será necessário fazer para que eu tenha geladeira novamente! Vamos aguardar.
É isso... Strasbourg é linda e os franceses são educadérrimos, ainda que quase nunca sejam simpáticos. Estou me virando bem em casa e na faculdade. Sinto falta da família, do namorado e dos amigos, mas procuro não pensar tanto nisso, já que a jornada está só começando. As vezes, quando as coisas não saem como eu gostaria, bate uma certa tristeza, mas dou um jeito dela passar logo. O fato da cidade estar quase sempre nublada também me entristece um pouco. Gosto das cores quentes do sol. De qualquer maneira, tento manter a alegria e tenho em mente que devo aproveitar cada minuto dessa oportunidade única.