quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Sobre a solidão

Eventualmente almoço em um restaurante de Perdizes, ao lado da PUC-SP. Na época da minha graduação, almoçava lá diariamente (não porque era um bom restaurante, mas porque era o que o meu dinheiro podia pagar... rsrs). E, desde aquela época, encontro por lá um casal de idosos. Ou seja, há, no mínimo, sete anos eles almoçam ali diariamente (ou quase diariamente).
É um casal muito peculiar. Ele, de cabelos brancos, sobrancelhas escuras, cara de poucos amigos. Veste camisa xadrez, calça jeans e tênis. Ela, também de cabelos brancos, usa um corte ao estilo Chanel, colar de pérolas, vestido florido e muita maquiagem. Eles sempre estão lá, comendo, quando eu chego e continuam lá, ainda comendo, quando eu vou embora (sim, eles comem bastante e, sim, eu como rápido demais! rsrs). Poderiam passar despercebidos, afinal de contas muitos idosos moram em Perdizes... Não é incomum vê-los por ali. Mas este casal chama atenção. Durante o tempo em que eu permaneço ali, não os vejo trocar uma única palavra. Nadinha. Ele olha insistentemente para as jovens que passam. Ela olha insistentemente para o prato de comida. E assim segue o almoço. Um indiferente ao outro. Há sete anos.
Penso que não existe pior solidão que essa: a solidão em que não se está só - a solidão a dois.
Será que, algum dia, esse casal já utilizou o horário em que se sentam à mesa para dividir os problemas e compartilhar as soluções? Será que eles já foram felizes? Será que eles se amaram de verdade? Quando será que foi a última vez em que eles fizeram amor? Que mais será que eles têm em comum além do horário de almoço?
Eu não quero envelhecer como eles. Quero encontrar alguém que me ame de verdade, que consiga olhar pra mesma direção que eu, que faça dos "meus sonhos" os "nossos sonhos" (e que o inverso seja verdadeiro). Alguém que saiba me tocar com ternura e que, ao sentar comigo à mesa me conte como foi o seu dia, me diga dos seus problemas e espera, sinceramente, que eu tenha palavras de conforto quando as notícias não forem boas, ou palavras de encorajamento quando o que disser vier com entusiasmo! Alguém que também queira, verdadeiramente, saber do meu dia! Ou, ainda, alguém que nem sempre necessite das palavras... Alguém que vai me dizer o que está acontecendo só com o olhar... Alguém que vai se sentir querido com o olhar que eu lhe dirigir. Alguém que queira envelhecer ao meu lado, compartilhando as conquistas e também as muitas "passadas de pernas" que a vida dá. Alguém que não seja perfeito, mas que o seja para mim. Quero encontrar alguém com quem eu tenha muito mais em comum do que uma simples relação amorosa.
Não que uma "simples relação amorosa" (se é que alguma relação - amorosa ou não - possa ser simples) seja ruim. Mas não é o suficiente. E digo isso de forma bastante tranquila, porque já vivi um relacionamento assim.
Quero alguém que, mesmo quando estivermos com nossos cabelos brancos, me convide pra ir ao cinema, pra ir tomar um sorvete ou andar de mãos dadas no shopping. Ou tudo isso junto. Mas, se isso não for possível, eu prefiro ficar sozinha. Porque a solidão é muito mais fácil de ser suportada quando se está só!

4 comentários:

Isa disse...

Nossa, que realidade triste Evelin. Concordo com tudo que disse, tb o que mais quero estar com uma pessoa que mi complete em todos os sentidos, e que nossa velhice seja um eterno namoro, amizade, cumplicidade e tdo +. Realmente é + fácil suportar a solidão qdo se está só.Mas na nossa velhice com certeza estaremos nos encontrando com nossos respectivos parceiros, e confirmaremos que nossa realidade será bem diferente deste casal citado, Abç gatinha

Cássia disse...

Nossa! Q triste!
E "vâmo combiná" q esse véio é um safado heim (olhando pras moças). E a véia é uma gordinha q só olha para o prato. Hehehe
Assim não dá! Ela devia dar um sopapo na orelha dele seguido de um "tá olhando o q véio???".
Hua hua... Mas mesmo assim, esse post foi muito triste!
Bjos!!!

Rodrigo Duarte disse...

Não achei o post triste. Acho que é a realidade. A realidade de quem se contenta com pouco. Existe muita gente má por aí. Muita gente que faz ou outros sofrerem. Aí alguns se contentam com alguém que não os façam sofrer muito. Só um pouco, consideram suportável. E se acomodam. E vivem anos em relacionamentos assim. É gente que se contenta com as migalhas que caem da mesa, sem saber que a vida está constantemente a nos oferecer um banquete. Um brinde a todos aqueles que ousam buscar o banquete, saborear a vida, nao se contentar com pouco e buscar ser feliz. Um brinde a todos que ousam desafiar a inércia.

Anônimo disse...

Aiii que coisa lindaaa, ameiii!!!! Meus olhos se encheram de lágrimas, acredita?!?!?! Também não achei triste, pelo contrário! Se me permite, Teatro Mágico: "E se, antes, bem antes, um pedaço de maçã, hoje eu quero a fruta inteira!!!" De ontem em diante eu quero é maisssssssssss!!!! Queira também, SEMPREEE :)